24 de fev. de 2012

Imobilidade

Checkpoint de Kafriat, quarta-feira, 16h.

Queríamos ver uma escola ameaçada de demolição, que se encontra numa vilazinha palestina que foi inadvertidamente deixada do outro lado do muro. Para chegar lá, pedimos ao  motorista que nos levasse até as proximidades da rodovia destinada exclusivamente aos moradores de Israel (sim, tem essas loucuras por aqui), e, dali, seguiríamos ao local em questão.

Caminhamos 100 metros até chegar ao terminal, onde um soldado nos parou, pediu nossos passaportes e disse que ia fazer uma checagem. Depois de duas horas em pé, parados no Checkpoint, pedimos nossos documentos de volta e ouvimos um lacônico “desculpe não poder ver a situação de vocês agora, mas peço que vocês se dirijam ao DCO Palestino para conseguir uma permissão para passar por aqui, porque assim é mais fácil”.

Precisava ter esperado duas horas pra dizer isso?! Outra coisa, o DCO é o cara responsável por juntar todas as requisições de trabalho e passagem de palestinos a Israel. Logo, por que diabos precisamos ir falar com ele para passar por ali? Obviamente, não querem nos deixar acompanhar algumas cositas…

Enquanto isso, os carros dos colonos de Enav e outros assentamos seguiam bem faceiros.

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Checkpoint de At Tayba, 4h da manhã de quinta.

Madrugada gelada. Eu e minha colega estamos no principal checkpoint de Tulkarm, destinado a trabalhadores palestinos que se dirigem a Israel. O terminal é controlado por uma empresa de segurança privada, mas não vemos nenhum funcionário trabalhando “do lado de cá”. Tudo é monitorado por meios eletrônicos: as portas giratórias são ativadas remotamente, as pessoas são vigiadas por câmeras o tempo todo e uma voz irritante não para de exigir que os indivíduos sejam mais ágeis ou que mostrem o que estão levando.

Em três horas contamos mais de 3000 passantes, todos com suas marmitinhas e obrigados a passar por um cercadinho metálico coberto de arame farpado e sabe-se lá quantas portas giratórias e detectores de metal. A “linha humanitária”, destinada a pessoas que eventualmente tenham que passar com mais urgência - por motivos de saúde, por exemplo -,  está obviamente fechada. Além disso, embora a limpeza e manutenção do local coubesse à Israel, que controla militarmente os arredores do checkpoint, há lixo por toda a parte.

Equação complicada, essa. Israel precisa da mão-de-obra palestina, mas parece achar que todo mundo pode ser um terrorista em potencial. Assim, inferniza a vida dos palestinos com exigências burocráticas e os submetem a essas condições degradantes.

Bem, é 7h10min da manhã e já há centenas de outras pessoas paradas na fila para passar pro outro lado.

 

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Sexta-feira em Kafr Qaddum e Ramin.

Duas vilas, dois problemas parecidos.

A primeira tinha uma estrada que a ligava a Jit, outra vila próxima, e, consequentemente, a uma das principais rodovias que saem de Ramallah em direção a Nablus. Ocorre que, no meio do caminho, Israel estabeleceu o assentamento de Qedumin e bloqueou a estrada, o que obriga os moradores de Kafr Qaddum a darem uma volta de uns 30 km pra fazer uma viagem que não chegava a 5km. Além disso, com a construção do muro por essas bandas, é provável que a vila perca mais de 50% de suas terras.

Ramin, por sua vez, tinha acesso a essa mesma rodovia. Todavia, depois da segunda intifada (lá por 2001 ou 2002) ele foi cortado  e jamais restabelecido. Desde então as autoridades locais vem mantendo contato com os israelenses para construir um novo acesso, mas esses alegam motivos de “segurança viária” para não construí-lo. Com isso, os habitantes de Ramin tem que dar uma volta de 20 km para acessar a via principal. O prefeito está esperançoso de que tudo vá dar certo e espera que nós o ajudemos da maneira que conseguirmos, mas sabe-se lá… o bacana mesmo é complicar :))

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Bem, liberdade de locomoção pra quê?

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