21 de fev. de 2012

Crianças

“Hello, how are you? What’s your name?”

Esse é o mantra das crianças todas as vezes que nos vêem. E, após repetir seu nome umas três vezes, não adianta tentar estabelecer uma conversa com elas: é tudo que elas sabem dizer em inglês. Depois disso, só sorrisos e palavras em árabe. Aliás, nessas horas ser brasileiro ajuda horrores, porque, se você disser sua nacionalidade, além dos sorrisos, ouvirá uns “Ronaldos”, “Real Madrid”, “Barcelona”…

Mas a verdade é que é difícil saber exatamente o que é uma criança por essas bandas. Meninos de 13 anos atirando pedras, garotos de 16 anos segurando M-16, tudo parte desse conflito maluco que deixa ambas as partes num clima ininterrupto de terror e insegurança. Crianças, nessas horas, são importantes: se bem “educadas”, serão elas que poderão seguir em frente com a causa, seja ela qual for.

Hoje de manhã acompanhei como isso funciona na prática. Tive a oportunidade de ver crianças palestinas participando de um comício organizado pelo “Prisoner’s Club”, associação que auxilia famílias que possuem parentes presos em Israel, em favor  da libertação de Khader Adnan  (http://www.jpost.com/NationalNews/Article.aspx?id=258739) e de outras pessoas que se encontram ilegalmente detidas (a chamada “prisão administrativa”). Elas chegaram bem barulhentas, empunhando bandeiras do “Prisoner’s Club” e de vários partidos políticos locais; com elas, vinham seus professores.

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“Absurdo”, podem pensar, “como esses professores levam seus alunos para comícios políticos, isso é lavagem cerebral”. Mas, numa guerra, cada um usa as armas disponíveis; se os do lado de lá podem ser ensinados a proteger os seus locais sagrados, mesmo que isso implique incorporar a Cisjordânia, os jovens daqui também devem ser preparados para defender sua Palestina. Educação e História, nesse sentido, acabam sendo armas às vezes muito mais eficazes do que caças ou foguetes feitos de PVC. Mudar essa mentalidade, promovendo um ensino que reforce ambas as identidades e a necessidade de cooperação (já existe algumas iniciativas nesse sentido), sem exclusão de um em detrimento do outro, é algo a ser exigido dos dois lados, mas acho difícil que se chegue a um consenso sobre o tema num curto período de tempo.

Mas, no fim, são mesmo crianças. Não deu nem 15 minutos e toda a formação cuidadosamente preparada estava desfeita; alguns apareceram com chocolate e refrigente, recém comprado no mercadinho local. Daí me viram tirando fotos: foi a senha pra uma enxurrada de “hellouuus” e “how are yousss”, que só foi contida pela ação dos incansáveis professores. Deu 30 minutos e as crianças foram embora, já bem menos barulhentas.

Então era o momento dos adolescentes, com seus keffiyehs (http://en.wikipedia.org/wiki/Keffiyeh), se aproximarem e perguntarem sobre minha conta de Facebook, sobre Ronaldo, Brasil, etc e tal. Convidei-os para aparecer no nosso grupo de discussão no Campo de Refugiados, distribui cartões, mas eles pareciam mais interessados em ter um amigo estrangeiro do que qualquer outra coisa. Adolescente, afinal de contas, é uma criança crescidinha.

Realmente, não adianta tentar mudar nada. Quando se é jovem, até o que é sério parece bem divertido.

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