16 de jan. de 2012

Roteiros Turísticos

O site do Ministério do Turismo de Israel é bem bacana (http://www.goisrael.com). Lá tem um mix de informações, com sugestões de lugares para visitar, dicas de viagem e roteiros turísticos, inclusive alguns com enfoque específico nas culturas judaica e cristã. Só tem um porém: não há nenhum roteiro específico para a cultura islâmica.

Bem, para não ser injusto, pela pesquisa que eu fiz no site, os maometanos são mencionados em alguns tópicos, como na parte que trata de Acre, cidade que ficou famosa por servir de base para os cruzados nas suas lutas por Jerusalém, ou na seção relativa aos grupos étnicos formadores de Israel. Ali, a título de explicação, afirma-se que os “muçulmanos israelenses” somariam 1, 2 milhões de habitantes, equivalendo a 20% da população total do país; ressalta-se, também, ser interessante visitar a Mesquita de Al-Aqsa, bem como o espaço dedicado à história muçulmana do museu da  Torre de David (http://www.goisrael.com/Tourism_Eng/ Tourist%20Information/Ethnic%20Groups/Pages/Muslim%20Community.aspx).

Mas não vai muito além disso.

A ausência de um roteiro específico para aqueles que desejam se aprofundar na cultura maometana, dentro do território de Israel, é bem significativa e, a meu ver, reveladora do estado de ânimo que provavelmente encontrarei por lá. Um lado querendo negar o outro, embora seja evidente a completariedade entre ambas as comunidades. O turismo, aqui, também se apresenta como mais uma arma na luta travada entre os dois grupos pela “propriedade” da cultura e da história forjadas na região. Fica clara, ainda, a tentativa de construção de um discurso que privilegia as comunidades judaica e cristã em detrimento da muçulmana.

Nada de muito novo nisso. O elemento religioso geralmente tem um peso importante nos movimentos nacionalistas; ele se mostrou essencial, por exemplo, com os católicos irlandeses e os gregos católicos ortodoxos em suas lutas, respectivamente, contra os ingleses, geralmente associado à religião anglicana, e os turcos maometanos. Mesmo mais recentemente  notou-se uma tentativa de contextualização semelhante com relação ao processo de libertação de Kosovo, que seria um “enclave” islâmico numa Sérvia majoritariamente ortodoxa. Então, a partir dessas orientações, vão se construindo diretrizes, com a consagração de referenciais de patrimônio histórico que formulam uma auto-imagem da “nação”, atrelando-a a uma determina corrente religiosa.

Talvez esse seja um dos grandes problemas dos Estados verdadeiramente multiculturais: respeitar as diferentes orientações culturais e religiosas, atribuindo-lhes o reconhecimento devido. Por que, afinal, atrelar a uma só corrente religiosa/cultura/étnica? No caso de Israel, relativamente à cultura muçulmana, isso se torna ainda mais difícil em razão das inúmeras feridas abertas pelos diversos conflitos em que se viu envolvido com o mundo árabe, tanto em reação a ataques externos quanto por iniciativa própria. Isso, contudo, não pode servir de desculpa para negar a completaridade evidente entre judeus e muçulmanos, que se revela inclusive quando vamos falar de um tema (aparentemente) tão leve quanto pontos de interesse turístico.

Aliás, complementaridade e essa mistura são o que tornam a região tão vibrante. Prefiro, assim, ir pronto para aproveitar o que todos os lados têm a me oferecer de cutura e sabedoria, sem um roteiro que diga quem eu sou ou quem eu não sou. 

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