13 de mar. de 2012

TLV

Gostei de Tel Aviv. Passei alguns dias lá, descansando e conhecendo um pouco do “outro lado”.

A cidade, de um modo geral, não tem o “peso” de Jerusalém, com todos os seus assentamentos e infindáveis discussões teológicas; não sei se era por causa do Purim, uma festa que, embora de fundo religioso, lembra muito o carnaval (as pessoas saem fantasiadas e podem tomar todas), mas o lugar tinha uma atmosfera bem alegre e despojada. Pessoas de bermuda, guris e gurias bebendo, cantando e gritando, todos nem aí pro Shabat, o feriado judaico. E depois, a praia; ah, a praia… sol, gente bonita e cerveja barata.

 

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Mas talvez todas essas qualidades sejam, também, os maiores defeitos de Tel Aviv. Pra quem saiu da Cisjordânia é um pouco espantoso ver tanto sossego enquanto a 50 km dali muros separam famílias e o exército age impunemente assustando moradores de pequenos vilarejos. Além disso, na mesma praia de areias brancas onde tomava sol e admirava a paisagem, pude ver helicópteros e navios de guerra dirigindo-se à Gaza, onde uma onda de violência teve lugar em razão da morte de um ativista local. Ou seja, Tel Aviv parece ser, definitivamente, O lugar para esquecer das amarguras do mundo.

No entanto, ainda que seja um lugar pra deixar as tristezas de lado, basta instigar um pouquinho as pessoas pra que elas abordem o tema mais comum nessas bandas: política e a segurança. Desde pequeninos são ensinados sobre as rudezas da criação do Estado de Israel - o que é plenamente justificável, porque a independência foi garantida pelas armas – e sobre o papel de todo cidadão na manutenção dessa conquista. Além disso, todas as pessoas devem servir ao exército por no mínimo dois anos, o que acaba criando uma mentalidade militarizada, que vê, em tudo, o risco de Israel ser apagado do mapa num piscar de olhos. 

Bem, se pode ser apagado do mapa, ou não, definitivamente não será por conta dos palestinos: esses estão anos luz de ter 1/10 do poder de fogo israelense e são as primeiras vítimas das demandas militares do outro lado do muro. Não quero e não estou menosprezando o sofrimento de ninguém, mas às vezes me parece que falta compreensão por parte do pessoal do lado de lá do muro de que a dor por essas bandas é multiplicada por 100.

Aliás, talvez a coisa que mais tenha ouvido das pessoas com quem conversei em Tel Aviv (jovens entre 18 e 23) tenha sido “desculpa, mas temos que agir assim”. Será que tem mesmo? Será que não percebem que a ocupação da Cisjordânia é motivada por algo que vai além da segurança, e que a “retirada” de Gaza, por exemplo, foi uma jogada incomprensível do mesmo ponto de vista da segurança, visto que esse quadradinho de terra sempre foi o grande foco das ações anti-Israel?

A minha impressão é que, não, as pessoas realmente não percebem ou não querem perceber. O espírito “Purim”, de agradecimento e celebração pelo simples fato de existir, não parece levar à conclusão de que a vida é também um bem perseguido por outros povos e que o convívio pacífico é algo possível se houver comprometimento; e, Tel Aviv, embora seja um ótimo lugar para descansar e apreciar a vida cultural israelense, de certa forma também leva à alienação dos moradores locais e turistas sobre o conflito. É por isso, aliás, que gostei tanto da cidade; afinal, pude, por alguns dias, me distanciar da realidade, embora ela insistisse em permanecer presente.

Bem, pra encerrar esses comentários vagos, sugiro a leitura de uma matéria que saiu na The Economist. Adianto que ela é forte, mas vale a pena ler porque expõe essa faceta da mentalidade local, que vê na segurança a justificativa para tudo.

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